Quando o servidor X está ativo, ele coloca o teclado do computador em um modo de operação chamado raw (cru), em oposição ao modo normal, chamado cooked (isto mesmo: cozido). No modo raw o sistema operativo não processa seqüências acento-letra. O servidor X é uma daquelas raras aplicações que, por dever de ofício, tem que tratar o teclado ``em baixo nível''.
O X vem equipado com um utilitário destinado à configuração do teclado, chamado xmodmap, que cumpre uma função correspondente à do comando loadkeys, ou seja, lê um arquivo de mapa de teclado do X, expecificando as equivalências entre os keycodes e respectivos keysymbols.
Eis um excerto deste arquivo:
keycode 47 = ccedilla Ccedilla dead_acute dead_doubleacute
keycode 48 = masculine ordfeminine dead_circumflex dead_caron
keycode 49 = backslash bar notsign
keycode 50 = Shift_L
keycode 51 = dead_tilde dead_circumflex dead_grave dead_breve
Observem que, ao contrário do loadkeys, o xmodmap não possui um diretório
padrão onde o arquivo é procurado.
A configuração do X não interfere de forma alguma com a configuração do modo de texto. De facto, é possível ter o seu X bem configurado, e no entatanto não ter realizado qualquer tipo de configuração ao modo de texto, e vice-versa. Outro ponto importante de se observar é que os códigos numéricos das teclas no X não correspondem aos do console. A tecla Backspace, por exemplo, tem o número 14 no console, e 22 no X (em um computador do tipo IBM-PC).
As versões 3.2 e posteriores do XFree86 permitam definir dead-keys, mas o seu tratamento é responsabilidade da aplicação, conforme visto na seção Modo texto versus Sistema de Janelas X. Há modos de contornar esta limitação e tornar o tratamento de dead-keys transparente às aplicações, conforme mostrado na seção Cotornando os limites do X.
Dividimos a configuração em duas partes: Uma que deve ser feita antes do login do usuário e outra depois.
Junto com este documento são fornecidos vários mapas de teclado para uso no
X. Para automatizar o processo de configuração do teclado basta copiar o
arquivo adequado para o diretório /usr/X11R6/lib/X11/xinit
, onde
normalmente ficam os arquivos de iníco da seção de trabalho no X. Na
distribuição Slackware esse diretório é um link simbólico para
/var/X11R6/lib/xinit
e na Debian e na Red Hat para
/etc/X11/xinit
.
Nas distribuições Slackware e Red Hat, verifique se no referido diretório
existe um arquivo chamado .Xmodmap
. Se existir, copie o
Xmodmap.
<alguma-coisa> para ele, ou faça um link. Normalmente
o arquivo de configuração xinitrc
possui os comandos para carregá-lo
automaticamente. Veja o seguinte trecho:
#!/bin/sh
# $XConsortium: xinitrc.cpp,v 1.4 91/08/22 11:41:34 rws Exp $
userresources=$HOME/.Xresources
usermodmap=$HOME/.Xmodmap
sysresources=/usr/X11R6/lib/X11/xinit/.Xresources
sysmodmap=/usr/X11R6/lib/X11/xinit/.Xmodmap
# merge in defaults and keymaps
if [ -f $sysresources ]; then
xrdb -merge $sysresources
fi
if [ -f $sysmodmap ]; then
xmodmap $sysmodmap
fi
Na distribuição Debian o mapa de teclado padrão do X é
/etc/X11/Xmodmap
, basta copiar o mapa desejado para aquele arquivo.
Ele será carregado pelo xinitrc, que por sua vez é um link simbólico para
/etc/X11/Xsession
, sempre que iniciar a seção de trabalho do usuário.
Existe ainda um pequeno problema: no meu computador, por exemplo, o sistema carrega diretamente o X ao dar boot e o login é feito pelo X Display Manager (xdm). Como o xdm faz o login antes de iniciar a seção de trabalho, o mapa de teclado não será carregado, o que pode criar problemas se o usuário usa caracteres como ``['' ou ``]'' em sua senha, pois nos teclados ABNT-2 e português esses símbolos são gerados por teclas cujos códigos numéricos não são os mesmos do teclado americano.
É preciso fazer uma pequena alteração no arquivo de configuração Xsetup_0.
Esse arquivo deve estar no diretório /usr/X11R6/lib/X11/xdm
, que na
Slackware é um link simbólico para /var/X11R6/lib/xdm
e
/etc/X11/xdm
na Debian e -- sujeito a confirmação -- RedHat. Eis o
conteúdo completo desse arquivo:
#!/bin/sh
#
# /usr/X11R6/lib/X11/xdm/Xsetup_0
#
sysresources=/usr/X11R6/lib/X11/xinit/.Xresources
sysmodmap=/usr/X11R6/lib/X11/xinit/.Xmodmap
# merge in defaults and keymaps
if [ -r $sysresources ]; then
xrdb -merge $sysresources
fi
if [ -r $sysmodmap ]; then
xmodmap $sysmodmap
fi
xconsole -geometry 480x130-0-0 -daemon -notify -verbose \
-fn fixed -exitOnFail
A distribuição Debian tem um Xsetup_0
um pouco diferente, em
/etc/X11/xdm/Xsetup_0
, mas basta acrescentar-lhe o seguinte:
sysmodmap=/etc/X11/Xmodmap
sysresources=/etc/X11/Xresources
if [ -f $sysresources ]; then
xrdb -merge $sysresources
fi
if [ -f $sysmodmap ]; then
xmodmap $sysmodmap
fi
Se no seu computador o login do usuário também for feito sempre via xdm, não é necessário mexer no xinitrc, como mostrado na seção anterior, já que o mapa de teclado será carregado antes do início na seção do usuário.
Uma das coisas mais importantes a definir quando vamos utilizar acentuação por meio de dead-keys é o conjunto de regras de composição. Essas regras determinam, por exemplo que a composição do caracter ' com a letra e gerará um é.
Ao contrário do console, no qual podemos definir as regras de composição no
próprio mapa de teclado, no X essas regras são colocadas no arquivo
/usr/X11R6/lib/X11/locale/iso8859-1/Compose
.
Para facilitar o uso dos mapas para teclados que não têm o c-cedilhado, como o
US+ (veja adiante) é conveniente definirmos uma nova regra de composição,
permitindo que o Ç seja gerado pela seqüência 'C
. Se não fizermos
isso, seremos obrigados a digitar <dead_cedilla-C>
, sedo o
dead_cedilla produzido pela combinação AltGR-=
, o que não é nada
confortável.
Para incluirmos as novas regras, basta aplicar uma alteração à definição
original. O arquivo Compose.patch
pode ser obtido via WWW na página do
Portuguese HOWTO. Para aplicar a atualização, copie-o para o diretório
/usr/X11R6/lib/X11/locale/iso8859-1/
, faça uma cópia de reserva do
Compose
original e invoque o utilitário patch:
cp -p Compose Compose.backup
patch < Compose.patch
Caso você prefira não aplicar o ``patch'', um arquivo Compose
pronto
também é fornecido. Lembre-se de fazer cópia do original antes de
substituí-lo!
Para os usuários brasileiros, há mais uma alteração a fazer no X. Conforme vimos na seção Biblioteca libc, uma variável de ambiente (LANG ou LC_ALL) configura o suporte internacional existente na biblioteca de funções padrão do sistema (libc). Esta configuração também é reconhecida pela biblioteca de funções do X (Xlib) mas até a revisão 6.3, na qual é baseado o XFree86, não era incluida a combinação ``pt_BR'', correspondente a Português/Brasil. Como resultado, cada vez que executarmos um aplicativo X com LC_ALL definido como ``pt_BR'' ele emitirá a mensagem ``Warning: locale not supported by Xlib, locale set to C''.
Para incluir o local pt_BR no X11R6.3 basta alterar três arquivos
existentes no diretório /usr/X11R6/lib/X11/locale
. Pegue o arquivo
Xlocale.patch
via WWW na página do Portuguese HOWTO. Para aplicar a
atualização, copie-o para o diretório /usr/X11R6/lib/X11/locale
, faça
uma cópia de reserva dos arquivos a serem alterados e invoque o utilitário
patch:
cp -p compose.dir compose.dir.backup
cp -p locale.alias locale.alias.backup
cp -p locale.dir locale.dir.backup
patch < Xlocale.patch
Caso você prefira não aplicar o ``patch'', arquivos prontos também são fornecidos. Lembre-se de fazer cópias dos originais antes de substituí-los!
Em setembro de 1998 o fix-2 da revisão 6.4 do X Window System incluiu oficialmente o suporte ao local pt_BR. Infelizmente neste mesmo fix-2 foi introduzida uma falha em uma das funções de tratamento de input contexts da Xlib que provoca violações de acesso à memória. Uma das aplicações afetadas é o processador de textos LyX. Uma correção provavelmente será incluida no fix-4. O X11R6.4 deverá ser a base para a versão 4 do XFree86.
Conforme foi explicado na seção Modo texto versus Sistema de Janelas X, o tratamento de acentos deve ser feito pela aplicação, mas ainda há muitos programas que não levam isto em consideração, tais como Netscape Navigator/Communicator e Nedit. Como não é possível modificar muitos deles, é preciso encontrar outro tipo de solução.
Linux, assim como a maioria dos sistemas operacionais modernos, usa um sistema de vínculo de programas a bibliotecas de funções chamado ``ligação dinâmica'' (dynamic binding). Deste modo, podemos modificar o comportamento de um programa alterando uma dessas bibliotecas. Maiores informações sobre este tema pode ser obtida nos manuais do Linux com os comandos
man ld.so
man ldconfig
man ldd
man dlopen
Thomas Quinot criou uma alteração para a biblioteca de funções do X
(Xlib) introduzindo o tratamento de acentos na função XLookupString,
Tudo que se tem a fazer é substituir o arquivo contendo esta biblioteca por
outro, que pode ser obtido via internet no endereço
http://web.fdn.fr/~tquinot/dead-keys.en.htmlExistem duas versões do arquivo, uma para sistemas onde as bibliotecas do X suportam o uso seguro de threads (Debian 2.x, Red Hat 5.x, etc.) e outra para os sistemas que não possuem tal atributo (Slackware, Caldera 1.x). Se você não sabe o que são threads não se preocupe com isso, mas saiba que eles permitem criar um programa capaz de se dividir em sub-processos que rodam concorrentemente em um computador. Para analisar sua Xlib rode o seguinte comando:
nm --dynamic /usr/X11R6/lib/libXext.so.6|grep _Xglobal_lockSe aparecer ``
U _Xglobal_lock
'' seu sistema suporta threads e o arquivo a
obter é libX11-XF3.3.1-TS.tar.gz
. Se não aparecer, seu sistema não
suporta threads e o arquivo a obter é libX11-XF3.3.1.tar.gz
. Tendo
obtido o arquivo, copie-o para um diretório temporário e extraia seu conteúdo.
Mova o arquivo /usr/X11R6/libX11.so.6.1
para outro diretório, para
preservá-lo. Não é suficiente renomeá-lo! Remova-o para um diretório cujo nome
não esteja contido no arquivo /etc/ld.so.conf
. Depois, mova o
novo arquivo para o lugar do antigo e rode o programa ldconfig (isto deve
ser feito pelo
usuário root):
cp libX11-XF3.3.1-TS.tar.gz /tmp
cd /tmp
tar xzf libX11-XF3.3.1-TS.tar.gz
mkdir /usr/X11R6/oldlib
mv /usr/X11R6/lib/libX11.so.6.1 /usr/X11R6/oldlib
mv libX11.so.6.1 /usr/X11R6/lib
chown root:root /usr/X11R6/lib/libX11.so.6.1
chmod 755 /usr/X11R6/lib/libX11.so.6.1
/sbin/ldconfig
É aconselhável que a operação seja realizada quando nenhuma aplicação X
estiver rodando. A seguir, edite o arquivo de configuração do servidor X,
chamado XF86Config
. Este arquivo fica no diretório /etc
(Slackware) ou /etc/X11
(Debian, Red Hat). Procure a seção
``Keyboard'' e inclua a opção ``XkbDisable'', conforme mostrado a seguir:
Section "Keyboard"
Protocol "Standard"
XkbDisable
EndSection
A opção XkbDisable inabilita a extensão XKEYBOARD do servidor X, o que neste
caso serve para sinalizar à função XLookupString que ela deve tratar os
acentos. Se quisermos voltar ao comportamento normal, basta retirar a opcção
do XF86Config
.
Configure o mapa de teclado do X conforme explicado nas seções anteriores deste documento. Para testar o resultado, rode o programa xedit e digite alguns caracteres acentuados.
Esta seção é baseada em contribuição enviada por Bruno Barberi Gnecco e na documentação do diacrd. Podem haver ainda alguns erros e se alguém os detectar, por favor avise-me.
Seguindo a regra geral do mundo *nix, existe sempre mais de um modo se resolver o mesmo problema. Conforme vimos anteriormente, existem dois modos de operação do teclado, chamados raw e cooked. Estes modos de operação podem ser mudados com o programa kbd_mode, integrante do pacote kbd, o que não é recomendável fazer a não ser para restaurar o estado do console após um desastre com o servidor X, por exemplo. No modo raw o kernel não processa os diacríticos (acentos).
Cedric Adjih criou uma alteração para o kernel que permitia tratar os acentos mesmo em modo raw, inicialmente voltada para o teclado de desenho francês. Enéas Queiroz, André D. Balsa e Claudemir Todo Bom fizeram melhorias e o adaptaram para os teclados internacional, português e ABNT. O tratamanto de acentos é feito parte pelo kernel, parte por um processo que roda em retaguarda (daemon) chamado diacrd, conforme descrito a seguir:
/dev/rawkbd
quando o teclado estiver em modo raw./dev/rawkbd
são lidos pelo
programa diacrd
, que processa as seqüências acento-letra e reescreve
no /dev/rawkbd
os caracteres acentuados na forma de códigos de
varredura (scancodes) que normalmente não existem no teclado./dev/rawkbd
os códigos gravados pelo
diacrd
e os passa à aplicação, que no caso é o servidor X.O diacrd pode ser obtido via FTP anônimo no endereço
ftp://sunsite.unc.edu/pub/Linux/system/keyboardsHá versões diferentes, de acordo com o tipo de teclado e, pelo menos por enquanto, não se pode reconfigurá-lo sem recompilar. Para fazer a instalação, de acordo com o arquivo ``README'', deve-se fazer o seguinte (pelo usuário root):
diacrd-<versão>
.diacrd.c
e remova os comentários desejados, de
acordo com suas preferências. Pode-se incluir capacidade de rodar o
programa xmodmap e ejetar o CD-ROM sob controle do pressionamento de
uma combinação de teclas./dev/rawkbd
executando o comando
``make rawkbd''.
cd /usr/src/linux
make config
make zlilo
Para maiores informações sobre compilação/instalação do kernel, leia o
Kernel-HOWTO, disponível via Internet nos repositórios do LDP mencionados
na seção
Onde encontrar a versão mais atual.
dmesg | grep RAWKBD
Deve aparecer
RAWKBD interface for diacriticals translation enabled...
e teste o dispositivo /dev/rawkbd
com o comando
printf "### TESTANDO ###" >> /dev/rawkbd
Veja na seção
Configuração do console como
carregar um mapa com suporte à acentuação. O pacote diacrd
vem com um arquivo chamada usintl.map
, que corresponde ao nosso
us+.map
. Se seu teclado não for do tipo americano, use o pt.map
ou abnt-2.map
./usr/X11R6/lib/X11/xkb/keycodes/xfree86
pelo arquivo fornecido junto com o diacrd.xmodmap.diacrd
.Se a geração de acentos funcionar, é preciso tornar permanentes as alterações
necessárias. Pode-se fazê-lo incluindo a carga do diacrd no arquivo
/etc/rc.d/rc.local
(Slackware).
Se algum dos leitores tiver criado um script de ativação do diacrd para a distribuição Debian ou Red Hat, por favor envie-o para que seja incluído aqui.
Em termos de resultados práticos, a Xlib modificada e o diacrd são equivalentes. Há porém algumas diferenças entre as duas soluções que merecem atenção.
Diacrd exige uma alteração no kernel do Linux para resolver um problema que o kernel já resolve, o que não deixa de parecer um tanto redundante. A dependência de um processo de usuário (o daemon kerneld) é uma desvantagem, pois se esse programa deixar de funcionar perde-se o suporte à acentuação no X. Trata-se de uma solução ainda em desenvolvimento e, segundo o conteúdo da documentação que o acompanha, o ideal seria que todo o tratamento fosse feito pelo kernel, sem depender de outro programa.
A necessidade de aplicar modificações no kernel para usar o diacrd não deixa de ser um risco, pois pode vir a criar incompatibilidades com versões mais recentes tanto do próprio kernel quanto com os utilitários do pacote kbd. Pode também ser difícil para um usuário novato envolver-se com coisas desse tipo.
A solução via Xlib é totalmente transparente às aplicações e permite reconfiguração em tempo de execução, bastando alterar o mapa de teclado do X e as regras de composição. Já o diacrd precisa ser recompilado se quisermos trocar o tipo de teclado, mas é possível que novas versões incorporem algum recurso de reconfiguração.
O diacrd só funciona no teclado do próprio computador. Se quisermos usar um display remoto, seja um termial X, seja um outro computador, não teremos suporte à acentuação. A troca da Xlib, por outro lado, enquadra-se plenamente na filosofia do X de que o servidor provê mecanismo, deixando a cargo da aplicação a definição de políticas. Exemplo da vantagem deste paradigma é poder usar as técnicas descritas na seção Configuração do X em outros sistemas operativos e com terminais X.
A solução via Xlib parece-me mais ``limpa'' e é minha predileta, mas, como sempre, fica a critério do usuário ou do administrador do sistema qual alternativa escolher.